Disney+ | O “novato” na ‘Guerra do Streaming’ vale a pena?

O streaming da Disney mal chegou ao Brasil e a internet foi à loucura — como de costume — para dar suas opiniões contra ou a favor da plataforma. Muitos curtiram a novidade e exaltaram a nostalgia que veio junto com ela. Afinal, é praticamente impossível crescer sem consumir algum conteúdo do estúdio, mesmo que você não saiba que é deles.
Entretanto, também tiveram aqueles que assumiram uma posição mais crítica, alegando que o Disney+ não trouxe nada de novo ou mesmo criticando seu preço ou catálogo. Mas afinal de contas, valeu o hype ou é só mais um streaming para o espectador pagar sem maiores vantagens?
Sim, tem novidades
Nos últimos anos o público se acostumou muito aos streamings. Não apenas de filmes e séries, mas de música, livros e games também, o modelo de consumo parece ideal para a maioria do público: com um valor “fixo”, o assinante tem acesso a um sem-número de conteúdos que — sejamos sinceros — nem a maior expectativa de vida pode dar conta de consumir por inteiro. E cada semana chegam mais séries e filmes originais em cada um deles.

Entretanto, se colocarmos uma métrica de qualidade nesses conteúdos, dá pra perceber que a maioria das novidades não são realmente um conteúdo de “altíssimo” nível. Claro, não dá pra ignorar incríveis produções como The Crown, The Boys, Jack Ryan, Sex Education, O Irlandês, Destacamento Blood, A Vastidão da Noite, entre tantas outras que são realmente bem produzidas e elevam o valor de suas respectivas “casas”. Entretanto, infelizmente, não é a regra.
Embora você possa conhecer o Disney+ por O Mandaloriano, sem dúvidas a atual “jóia da coroa” da plataforma, o streaming já chega ao Brasil com uma boa dose de conteúdo original. A Dama e o Vagabundo, Black is King, Phineas e Ferb, O Filme: Candace Contra o Universo, Timmy Fiasco e tantos outros filmes, séries, curtas, etc, que ainda são inéditos para o público brasileiro. Claro que de cara, vamos precisar assistir a tudo isso para encontrar outras joias como o faroeste-espacial do Baby Yoda, mas não dá pra dizer que o conteúdo é só nostalgia.
Disney não é apenas “nostálgica”, é histórica
Mas sim, por hora, a maior parte do catálogo são de filmes e séries antigas. Mas quando falo “antigo” eu quero dizer realmente antigo. Se para alguns a nostalgia vai bater forte ao ver coisas como Hannah Montana, Os Feiticeiros de Waverly Place e High School Musical no catálogo, outros podem se surpreender ao ver que animações da década de 40, 50 — e até mais antigas — também estão presentes na plataforma. E tudo bem organizado para não perder de vista.
Sejamos sinceros: mesmo o mais crítico dos espectadores precisa admitir que não dá para estudar o cinema e sua história ignorando — ou negando — o valor dos estúdios Disney. E desculpem, mas quem ainda o faz é por simples e pura arrogância, em busca de uma intelectualidade vazia a ponto de rebaixar quaisquer produções apenas por elas serem mainstream, ou seja, abrangendo a maioria do público. É a mesmíssima história do “filmes de heróis não são cinema” que estourou tempos atrás. E como antes, não faz muito sentido além de querer estabelecer uma barreira e debochar de parte do público que gosta desse tipo de conteúdo.

Sendo assim, para aqueles que verdadeiramente gostam de cinema — e de séries —, a plataforma mostra-se um ótimo complemento à esta “guerra” dos streamings, ainda mais para os espectadores mais novos, pois é uma boa chance para que eles vejam obras cujo acesso era mais limitado — seja pela dificuldade de conseguir uma cópia física ou mesmo digital desses filmes —, como Fantasia, Você já foi à Bahia?, Bernardo e Bianca e outros. E isso porque estou me resumindo à citar apenas animações. Assim, quem assina o serviço para rever Vingadores: Ultimato pela 14ª vez, leva junto esse baú de histórias para navegar. Toda forma de facilitar o acesso à conteúdos assim, é válida.
E claro, você não precisa se limitar ao que está aqui, caso possa assinar outras plataformas que também trazem conteúdos clássicos e que são mais gentis com o bolso do espectador. Mas também não tem nada de errado se você é fã da Disney e simplesmente quer assinar o serviço só por isso.
Muito além de Marvel e Star Wars
Apesar do vasto conteúdo — e com mais a caminho —, é claro que as marcas Pixar, Marvel e Star Wars foram o que brilharam os olhos da maioria dos assinantes. Seria ingenuidade pensar o contrário. Entretanto, o legal é que mesmo para quem assinar só por isso, encontra algo muito além.
Os fãs do Universo Cinematográfico Marvel, por exemplo, vão encontrar não apenas com filmes da franquia X-Men, como a animação de 1992 da equipe. Além de animações focadas nos Vingadores — uma de 1999 que é praticamente um meme, uma de 2010 que é bem legal, e uma de 2013, já feita pelas mãos da Disney —, além de outras focadas nos heróis individualmente. Já os fãs de Star Wars vão encontrar Clone Wars e Rebels, duas séries animadas bastante elogiadas. E que não eram encontradas com facilidade para ver a menos que você tivesse TV à cabo — no caso de Rebels, já que Clone Wars foi exibida há mais de 10 anos — ou possuísse a série em dvd/blu-ray. E digo isso sem saber se esses conteúdos realmente chegaram em mídia física por aqui.

Da mesma forma, para quem quiser se aventurar fora desses eixos, o streaming também possui documentários bastante interessantes, como o ganhador do Oscar Free Solo sobre um alpinista escalando — sem ajuda de equipamentos — El Captain, considerada uma das escaladas mais difíceis do mundo. Além dele, temos A História da Imagineering, série documental sobre os parques da Disney, e também um documentário-biográfico em homenagem ao ator Chadwick Boseman, Homenagem a um Rei. Chadwick, que deu vida ao Pantera Negra, faleceu em agosto deste ano.
Outras obras interessantes encontradas na plataforma são Black is King, um “álbum-visual” realizado por Beyónce, a peça-filmada Hamilton de Lin-Manuel Miranda e a coletânea Pixar — SparkShorts, que reúne uma série de curtas realizados por animadores da Pixar, dentre eles Kitbull, que concorreu ao Oscar este ano e cuja crítica pode ser conferida aqui.
Nada é perfeito, nem mesmo a magia Disney
Depois de todos esses pontos que ressaltei, eu realmente gostaria de poder afirmar que você pode assinar o Disney+ porque ele é perfeito. Mas não é. Além de algumas faltas consideráveis dentro do catálogo, outros pontos chamaram a atenção, com razão, do público brasileiro.
Logo nos primeiros minutos após o lançamento, o twitter já estava em polvorosa notando faltas consideráveis que eram quase certas de estar no catálogo. A série da Lizzie Mcguire e a animação Hora do Recreio não estão presentes, embora ambos tenham um longa-metragem já disponível. Da mesma forma, o reboot de DuckTales também não está lá, assim como a animação Planeta do Tesouro. Algumas animações do Homem-Aranha também não estão disponíveis — provavelmente por causa de acordos de direitos autorais com a Sony — além da triste ausência de Os Simpsons, que só tem duas temporadas na plataforma, além de alguns curtas e o longa-metragem de 2007.

O live-action de Mulan, diferente do que muitos pensaram, também não está disponível. Nem mesmo existe a opção de alugá-lo por fora como ocorreu fora do Brasil. Entretanto, o mais polêmico dos casos foi realmente a falta de legendas em português de Hamilton, que parecia ter sido apenas um erro em um primeiro momento, mas a Disney se pronunciou afirmando que não haveria legendas por “decisões criativas”.
Após muitas críticas com o serviço, o diretor se pronunciou no twitter alegando que já estavam trabalhando em legendas para a América Latina. Mesmo assim, não foi suficiente para “abafar” o caso, já que muitos alegaram que haviam legendas na internet cerca de um dia depois da obra ter vazado. E apesar de muitos alegarem que é uma legenda um tanto difícil de se adaptar a outros idiomas, isso vai de encontro justamente com um dos aspectos mais importantes que é democratizar o acesso a obra, que no momento está limitado apenas aos brasileiros que compreendam a língua inglesa.
Enfim, vale a pena?
No final das contas, tudo depende. A assinatura mensal da plataforma está saindo por R$ 27,90 por mês (com um plano anual que sai por R$ 270,90, equivalente a 10 parcelas). Assim sendo, não é nem o mais caro dos streamings atuais, mas também não é o mais barato deles. Além disso, há de se considerar que outras plataformas tem catálogos ainda maiores que o do Disney+, logo, talvez seja bom esperar um pouco mais pelas novidades aqui.
E neste quesito novidades, temos confirmação das séries da Marvel como WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal e What if…?, que com certeza terão um valor de produção semelhante a O Mandaloriano. Além disso, haverão séries focadas em Cassian Andor — de Rogue One — e Obi-Wan Kenobi, que também estão em produção. Além de outros filmes e séries clássicas que devem entrar no catálogo nos próximos meses.
Caso caiba no seu bolso e você goste do baú histórico da Disney como complemento para o cinema em casa de cada dia, acompanhado de algum outro streaming, não vai se arrepender. Agora, caso queira priorizar obras — sejam clássicas ou contemporâneas — fora do eixo do Mickey, plataformas como Petra Belas Artes à la Carte ou mesmo o Telecine, podem te agradar também. O importante é não ficar limitado — com a facilidade de hoje, você pode até alternar assinaturas de mês em mês, em vez de assinar tudo de uma vez —, mas também não se deixar limitar só por que o novo streaming é “muito mainstream”, né?